quarta-feira, 25 de abril de 2012

Eleições presidenciais francesas 2012


No domingo passado aconteceu aqui na França o primeiro turno das eleições presidenciais de 2012. Concorreram 10 candidatos, mas os mais cotados eram o presidente atual Nicolas Sarkozy - direita (27,18%), François Hollande - esquerda (28,63%), Jean-Luc Mélenchon - extrema esquerda (11,11%) e Marine Le Pen - extrema direita (17,9%). O segundo turno foi sem surpresas, como já apontavam as pesquisas Sarkozy e Hollande vão se enfrentar novamente daqui à 3 semanas, mas o que chamou atenção foi a terceira posição alcançada pela candidata de extrema direita Marine Le Pen que teve quase 18% dos votos franceses.
Com idéias fortes contra a imigração e contra políticas da União Européia ela teve o apoio da grande parte das zonas rurais. O que me surpreendeu, ver os trabalhadores votarem na extrema direita não é algo que se vê todos os dias... na minha cabeça a classe operária vota na esquerda. Talvez eu tenha que rever esse conceito ultrapassado. A candidata obteve 29% de adesão com os trabalhadores, um número superior com relação à Hollande (28%) e bem superior com relação à Sarkozy (18%). E se pensam que os franceses votaram no partido do Front National (Marine Le Pen) para fazer oposição à outro candidato estão muito enganados, 64% dos eleitores que votaram Marine realmente apóiam a candidata.
Eu, particularmente, não gosto de extremismos. Quando se come muito açúcar corre-se o risco de ficar diabética e quando se come pouco corre-se o risco de ficar hipoglicêmica. O extremismo nos levou para a segunda guerra mundial e para o massacre de milhares de pessoas dos dois lados. O partido de Marine Le Pen trouxe idéias bem racistas e xenófobas. Como por exemplo, fechar as fronteiras até mesmo para a Europa. Pregam o fim do flux migratório do Magrebe (região norte da África, chamada África Árabe) para a França. O mesmo Magrebe (Tunísia, Marrocos, Argélia) onde os franceses colocaram suas colônias durantes anos.  A  Argélia, por exemplo, teve que lutar durante 17 anos para conseguir sua independência da França, pois os franceses não queriam devolver o que era de direito aos argelinos. E agora querem tirar o direito dos argelinos de viverem na França. Enquanto era interessante para a França os Argelinos eram franceses, agora que eles vem para a França e formam a comunidade muçulmana aqui e se casam com as francesas não é mais interessante que possam entrar no país sem papel.
O que a França colhe agora, imigração massiva de africanos, são frutos do que foi plantado no passado. São consequências de políticas de invasão e exploração que foram aplicadas durantes décadas. A Suíça também tem idéias bem direitistas com relação à cidadania suíça e imigração, mas eles nunca se envolveram em outros países, então para mim é como se eles ainda tivessem o direito de terem esse tipo de política migratória. Mas com a França é outra história, a França tem 16 territórios que eles chamam de 'outro mar', territórios franceses, mas que não são na França, espalhados pela África, América, Oceania e Antártica. E tiveram inúmeras colônias espalhadas pelo mundo, não vejo como os franceses tem o direito, hoje, de dizer que os cidadãos dessas colônias não podem morar na França.
O fato é que a França é um país racista. Aqui, mesmo que você tenha nascido na França, é comum dizer que é francês de origem X. Para mim nasceu na França é francês como diz a lei. No Brasil tem milhares de pessoas com dupla nacionalidade e nem por isso falamos que somos Brasileiros com origem portuguesa, por exemplo. Mas aqui isso é bem forte, se a pessoa tem uma aparência mais árabe é muito comum perguntar a origem, da onde os pais vieram, como se isso fosse um indício de que a pessoa é menos francesa do que aquela de pele branca e cabelo liso. O perfil do francês mudou muito, por isso, tem se discutido bastante sobre a 'identidade francesa', o que é ser francês. O francês não é mais somente aquele homem magro com cabelo liso ou um pouco encaracolado... O francês agora também é o homem de pele um pouco mais escura, com cabelo crespo que eles raspam do lado e deixam um pouco maior em cima. A francesa não é somente a menina magra de cabelo liso, curto e com franja, agora ela também tem mais corpo e prende o cabelo dela lá no alto, um cabelo mais escuro, mais grosso e um pouco mais ondulado.
Esse alto percentual de voto para a extrema direita talvez queira dizer que os franceses querem resgatar a antiga França. Uma França com pouca mistura e com várias colônias, com dinheiro e poder, mas o que os franceses não entendem é que o tempo não volta e que tudo que se planta colhe.


terça-feira, 24 de abril de 2012

Sozinha mas acompanhada

O fato de estar longe de casa me fez dar ainda mais valor aos meus amigos e família. Quando existe alguma coisa que não está ao nosso alcance essa coisa fica ainda mais valiosa. Mas é mais do que isso, nós precisamos pertencer à algum lugar e só os amigos e a família podem dar essa certeza para a gente, a certeza de que não estamos sozinhos. A solidão é necessárias às vezes, eu sou uma pessoa que preciso do meu espaço, gosto de ficar em casa sozinha e não ligo se não tiver ninguém para ir no shopping comigo... Eu gosto de ter um tempo para mim, eu preciso desse tempo. Mas é verdade que a solidão a mais pode machucar bastante. Nenhum ser humano foi feito para ficar sozinho, o ser humano precisa trocar palavras, carinhos, experiências. E aqui, com os dias em que ando almoçando sozinha em casa, fazendo comida só para mim enquanto o João está trabalhando, estou aprendendo o significado negativo de passar um tempo sozinha...
A solidão é como uma erva daninha, ela cresce de um dia para o outro e se espalha com facilidade, quando menos percebemos, ela está lá... misturada à grama. Mas o lado bom é que ela é fácil de arrancar pela raiz, basta falar com algum amigo ou com a família. Ontem recebi a ligação de uma amiga querida, e foi como se de repente eu não estivesse mais almoçando sozinha. Aquela ligação me deixou muito feliz, poder ver e falar com as pessoas queridas (o Skype ainda não permite tocar) é a coisa mais valiosa que se pode ter quando está fora de casa. Essa simples ligação me deu forças para ficar sozinha vários outros dias, uma ligação de 1 hora me encheu de carinho, me preencheu totalmente. Me fez perceber que eu posso estar à kilômetros da maioria das pessoas que amo, mas me fez perceber também que, apesar da distância, eu não estou sozinha. 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Essa falsa amizade

Eu não entendo essa obrigação que os cariocas acham que tem de serem amigos de outra pessoa. Essa forma de lidar com o outro achando que está sendo simpático, mas na verdade só está enganando o próximo. Até para quem conhece as regras (o meu caso) pode ser irritante. Por que convidar para sair se não faz questão de sair com a pessoa? Por que marcar um chopp se na verdade não quer tomar um chopp com a pessoa? O que alguns chamam de delicadeza eu acho uma falta de educação tremenda. Não vou dizer que nunca fiz isso... até mais do que eu gostaria... nasci no Rio, no Brasil, é inevitável não pegar hábitos, mesmo que ruins, mas ainda assim é difícil para mim entender essa lógica. Ninguém é obrigado a ser amigo de ninguém nessa vida. E isso é um fato! E desde quando fingir que é amigo é sinônimo de boa educação? Você pode ser gentil com o outro, cumprimentá-lo na rua, até trocar algumas palavras amigavelmente no trabalho, mas isso não faz dele um amigo... então porque dar falsos indícios de fraternidade como 'marcar' um almoço... ou um encontro? Qual é o objetivo? Não entendo essa necessidade de se apoiar em uma amizade que, na verdade, não existe.
Nesse ponto tenho que reconhecer que os franceses são muito mais sinceros e verdadeiros. Eles vão te cumprimentar, dizer bom dia e boa noite, mas nunca vão te chamar para almoçar ou tomar um chopp se realmente não quiserem sua companhia (falo de forma geral, claro que exceções existem). Diria que é bem mais fácil desse jeito, você não precisa conhecer as regras, pois elas são claras. É verdade que, em contra partida, isso dificulta os franceses à fazerem novas amizades, o que me faz estar em maus lençóis pois sou uma estrangeira aqui. De qualquer maneira, não posso negar, que dessa forma me parece muito mais honesto e claro com todos os envolvidos.